No regresso do Mourinho ao nosso banco, 25 anos depois, uma vitória folgada para afastar as más sensações dos últimos jogos foi o que melhor poderia ter acontecido. Era fundamental que o novo treinador começasse com uma vitória, de preferência convincente, para começar a silenciar o ruído de fundo.

O novo treinador pegou na equipa há dois dias e o jogo foi contra o actual último classificado. O Benfica seria portanto sempre claramente favorito neste jogo, quer tivesse ou não trocado de treinador, e não vale muito a pena estar à procura de grandes influências dele no jogo da equipa, à parte a parte psicológica dos jogadores (por algum motivo lhes chamam 'chicotadas psicológicas'). O onze apresentado, no qual apenas mudou o Schjelderup pelo Ivanovic, podia perfeitamente ter sido um onze escolhido pelo Bruno Lage. Até cheguei a pensar que isso significasse uma mudança táctica, com a equipa a apresentar um losango no meio campo em que o Sudakov jogaria nas costas dos dois avançados, mas este acabou por colocar-se mais sobre a esquerda, com o Aursnes a manter-se na ocupação dos terrenos mais à direita. Portanto, nada de radicalmente diferente. E as poucas diferenças notaram-se na primeira parte, porque aquilo que jogámos nela também poderia ter sido perfeitamente mais um jogo como os últimos sob a orientação do Bruno Lage. De uma forma resumida, apesar de termos estado mais por cima, não jogámos nada bem. Uma vez mais num relvado no mínimo sofrível (em três jogos fora esta época, é a terceira vez que apanhamos um relvado em más condições) permitimos demasiado espaço ao AFS para nos ameaçar, em especial quando recuperavam a bola como consequência do diversos maus passes por parte da nossa equipa. Até começámos o jogo com uma óptima ocasião de golo logo aos dois minutos, finalizada de forma muito deficiente pelo Ivanovic quando estava isolado, mas o adversário foi ganhando confiança à medida que ia respondendo e também conseguindo ao máximo quebrar o ritmo de jogo - só nos primeiros 16 minutos de jogo houve quatro interrupções devido à necessidade de jogadores do AFS serem assistidos (um deles no entanto teve mesmo que sair). Ainda marcámos um golo pelo Ivanovic, que foi anulado porque na altura do cruzamento do Dahl a bola já tinha ultrapassado a linha de fundo, e o mesmo Ivanovic voltou a ter uma boa ocasião, mas o remate de ângulo muito apertado foi cortado por um defesa em cima da linha. Mas o AFS também conseguia chegar com perigo à nossa baliza e ainda atirou uma bola ao poste. Foi só no último minuto de compensação que desfizemos o nulo, numa insistência do Sudakov. Depois de uma jogada em que o Pavlidis e os defesas do AFS se embrulharam na área a bola sobrou para o ucraniano, que viu o primeiro remate de pé direito ser bloqueado por um defesa, mas a recarga de pé esquerdo seguiu imparável para o fundo da baliza.

Devo dizer que gostei muito mais do Benfica que vi na segunda parte, em vantagem. E neste ponto talvez possa admitir que tenha havido influência directa do treinador. É que, ao contrário daquilo a que infelizmente nos tínhamos vindo a habituar nem digo nos últimos tempos, mas mesmo nos últimos anos com vários treinadores, o Benfica não se encostou à vantagem mínima e não tentou 'gerir' o resultado enquanto entregava a iniciativa do jogo ao adversário. Na segunda parte o Benfica mandou ainda mais no jogo e encostou o AFS à sua área, não lhe permitindo alimentar grandes esperanças de obter qualquer coisa deste jogo. O Sudakov esteve perto de voltar a marcar, vendo o golo ser negado por uma boa defesa do guarda-redes, mas pouco depois o Benfica fez mesmo o segundo, quase a fechar o primeiro quarto de hora da segunda parte. Num livre marcado sobre o lado direito do nosso ataque a bola foi colocada na zona do segundo poste, onde o Otamendi a cabeceou e foi depois atingido na cara pelo cotovelo de um adversário. Fiquei honestamente surpreendido por o árbitro ter assinalado logo o penálti (nem foi o VAR a ter que alertá-lo) porque normalmente não assinalam estas faltas a nosso favor (e na primeira parte já tinha ficado um penálti por assinalar sobre o Ivanovic). O Pavlidis converteu-o com a eficácia do costume. Cinco minutos depois veio o terceiro golo, numa boa jogada de ataque. Em zonas mais recuadas - sobre a linha de meio campo - o Sudakov colocou a bola nas costas da defesa do AFS, permitindo ao Pavlidis escapar à armadilha do fora de jogo e fugir pela esquerda. Chegado à zona lateral da área, colocou a bola no Ivanovic que, em frente à baliza, evitou um adversário com uma simulação de corpo e rematou para o golo. Tudo resolvido e para os últimos vinte minutos mudámos para um mais familiar 4-2-3-1, com as entradas do Schjelderup e do Barreiro para os lugares do Ivanovic e do Barrenechea, e afrouxámos um pouco a pressão, o que permitiu ao AFS finalmente respirar e até voltar a chegar à nossa área. Mas nunca deixámos de ter mão no jogo.

Os jogadores em maior destaque foram, para mim, o Pavlidis e o Sudakov. O Pavlidis marcou um golo, assistiu para outro, e ainda que atabalhoadamente, acabou por estar também ligado ao primeiro golo. O Sudakov marcou o importante golo que desfez o nulo, e numa altura bastante importante, mesmo a fechar a primeira parte. Esteve perto de voltar a marcar, e fez o passe que desmarcou o Pavlidis no lance do terceiro golo. Ele dá à equipa a tão falada criatividade e capacidade de rasgo que pareciam faltar à equipa e que, por mais que o Bruno Lage afirmasse que teriam que vir da equipa como um todo, pareciam estar claramente em falta. No lance do golo, foi interessante ver a facilidade de remate com os dois pés.
O calendário é apertado e não perdoa, na terça já há novo jogo e aguardemos para ver o que o Mourinho conseguirá fazer à medida que tiver mais tempo para trabalhar. A qualidade no plantel existe e 'acabado' ou não, ele sabe mais de futebol e tem mais experiência do que quase todos os outros juntos. O que me vai parecendo à medida que vou observando as reacções dos nossos inimigos é uma tentativa de esconder a evidente preocupação com a possibilidade da coisa correr bem, e é por isso que são eles os mais vocais na narrativa do 'acabado'. Uma coisa parece já ter mudado para mim: a sensação de que agora é o treinador do Benfica quem controla a narrativa nas conferências de imprensa.
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