Podia ter sido um simples passeio até ao Algarve, mas acabou por ser mais um jogo com muitas semelhanças à maioria daqueles que temos disputado fora de portas nesta liga, e com o mesmo resultado: uma vitória do Benfica, com uns sobressaltos nada justificados e perfeitamente dispensáveis pelo meio. No final, e para não variar, a sensação de que os números da vitória sabem a pouco.
Fiquei algo surpreendido com a constituição da equipa, já que esperava que o Roger Schmidt fosse o Roger Schmidt e nada mudasse. Em vez disso, o Morato, o Florentino e o Neres avançaram para a titularidade, saindo do onze o António Silva, o João Neves e o Di María (que nem no banco se sentou). Pensando bem, a titularidade do Morato fazia sentido: era um bom jogo para lhe dar minutos, em vez de o lançar sem grande ritmo directamente para a titularidade no próximo jogo da Champions em Milão. Veremos agora se no jogo contra o Porto regressa o António Silva (espero que sim) ou se se mantém a aposta no Morato. O Di María pelos vistos teve um pequeno problema físico, e feliz do clube que pode substituí-lo por um jogador com o nível do David Neres. Quanto ao Florentino, fiquei pessoalmente muito feliz por vê-lo regressar. Já o escrevi antes, lamento pelo João Neves, que é um excelente jogador, mas a bem do equilíbrio táctico da equipa o Florentino tem que jogar quase sempre. Por algum motivo foi um dos mais utilizados a época passada, e faz-me confusão vê-lo frequentemente relegado para o banco esta época. Vejo mais o João Neves como uma alternativa ao Kokçu, ou até mesmo ao João Mário. E quem beneficia bastante com a presença do Florentino no onze é o Kokçu, que pode jogar com maior liberdade e aparecer com maior frequência em zonas mais adiantadas. Não é de todo coincidência que os melhores jogos que (na minha opinião) ele fez esta época foram quando fez dupla com o Florentino. Neste jogo fez apenas 45 minutos, mas foram de altíssimo nível. Passando ao jogo, e a exemplo de todos os outros jogos que o Benfica disputou fora esta época, os primeiros quarenta e cinco minutos foram de domínio quase absoluto. Gostei muito do futebol que a equipa apresentou, solto, alegre e com velocidade, onde o inevitável Rafa e o Neres eram dos principais dinamizadores. Bastaram apenas cinco minutos para nos colocarmos em vantagem: arranque do Neres pela esquerda, bola colocada na zona frontal da área e o Kokçu solicitou a entrada do Bah pela direita, com este a marcar um belo golo com um remate seco e cruzado para o poste mais distante. Bonito, simples e eficaz. Logo a seguir o Neres e o Rafa construíram mais uma jogada rápida de transição, com o brasileiro a finalizar num remate de ângulo apertado que só não deu golo por mérito do guarda-redes. Dezassete minutos decorridos, e segundo golo. Passe fantástico do Kokçu ainda antes do círculo central a rasgar por completo a defesa do Portimonense e a solicitar a corrida do Neres pela esquerda, que entrou na área e colocou rasteiro para a finalização fácil do Musa na marca de penálti. O domínio do Benfica continuou, e acho que todos devemos ter ficado com aquela sensação de déjà vu. É que o jogo parecia estar a ser tão fácil e a nossa superioridade tão evidente que à medida que íamos vendo o Benfica falhar consecutivamente o terceiro golo só dava mesmo para pensar no cenário em que de repente o adversário fazia um golo contra a corrente do jogo e ficava tudo virado do avesso - tal como aconteceu nos outros jogos fora. E foram boas as ocasiões que o Benfica teve para fazer esse terceiro golo, com destaque para o Rafa, que numa delas se isolou, ultrapassou mesmo o guarda-redes e depois não arriscou a finalização de pé esquerdo, acabando o lance por se perder junto à linha final. Na outra, novamente isolado (mais um passe em profundidade brilhante do Kokçu) até tentou finalizar bem colocando a bola ao poste mais distante, mas o guarda-redes defendeu com o pé.
Ao intervalo, e mais uma vez de forma talvez surpreendente (porque o nosso treinador costuma ser muito mais conservador nas substituições) houve três trocas de uma vez: Kokçu, Musa e Bah já não voltaram, e vieram nos seus lugares o João Neves, o Arthur Cabral e o Jurasek - o Aursnes passou para lateral direito. Em relação ao Bah, talvez fosse o menos surpreendente porque já se tinha queixado no decorrer da primeira parte. As alterações não pareceram afectar muito o Benfica, que continuou sempre por cima no jogo. Mas no futebol as coisas podem sempre mudar de um momento para o outro, e foi isso que aconteceu quando o Portimonense, praticamente da primeira vez que atacou com perigo, reduziu. O golo não só foi contra a corrente do jogo, como a própria jogada foi atípica e até algo consentida pelo Benfica. Com a equipa toda no ataque, o Portimonense recuperou a bola e um único jogador ultrapassou creio que quatro ou cinco jogadores nossos pelo meio sem que ninguém o travasse, para depois abrir num colega solto pela direita da nossa defesa. Este entrou pela área e finalizou com um remate forte e colocado ao poste mais distante. Foi aos cinquenta e seis minutos, o Portimonense acordou com o golo e sentiu-se algum nervosismo da nossa parte. Para piorar a situação, apenas três minutos depois foi assinalado penálti por um desvio da bola com a mão do Morato. É preocupante que com apenas oito jogos disputados esta época já tenhamos cinco penáltis assinalados contra, sendo que em quatro jogos fora para a liga houve penáltis contra nós em três deles. Felizmente o mal maior foi evitado pelo Trubin, que manteve a calma e defendeu o penálti. Seguiram-se alguns minutos em que o jogo esteve demasiado partido para o meu gosto, mas com a obtenção do terceiro golo, aos sessenta e seis minutos, recuperámos a calma e o controlo do jogo. Nova transição rápida conduzida pelo Rafa, que levou a bola até à zona frontal da área e aguentou até soltar a bola na altura certa para a entrada do Neres pela esquerda, com este a finalizar o lance com um remate por entre as pernas do guarda-redes. Este golo acabou de vez com o Portimonense, e o Benfica conseguiu gerir tranquilamente o jogo até final, ficando até a dever a si próprio não ter aumentado ainda mais a vantagem (ainda estou para perceber como é que o João Mário falhou aquele golo que o Neres lhe ofereceu depois de entrar pela esquerda até à linha de fundo). Até final, nota para o facto do Florentino ter saído, o que obrigou o Aursnes a ocupar a terceira posição diferente em noventa minutos (entrou o Tomás Araújo para a lateral direita) e ainda para ter ficado bastante evidente que o Arthur Cabral está longe da forma ideal.
O homem do jogo é inevitavelmente o David Neres. Esteve na jogada do primeiro golo, fez a assistência para o segundo e marcou o terceiro. Acho que isto basta. Esta época, ao contrário da anterior, tem jogado mais como extremo puro do lado esquerdo, quando a época passada actuava preferencialmente pela direita para vir para o meio. Não deve ser uma situação fácil de gerir ter um jogador deste nível no banco, mas espero que o nosso treinador saiba aproveitar ao máximo e tirar todo o rendimento dele e do Di María, fazendo uma gestão apropriada do esforço de ambos. Grandes quarenta e cinco minutos do Kokçu que, conforme disse, parece jogar bem melhor quando tem as costas quentes pela presença do Florentino. A qualidade de passe do turco não é surpresa para ninguém, e nesta primeira parte vimo-la de forma bem evidente. O Rafa esteve também mais uma vez em evidência - é a chama mais forte do nosso ataque e quase tudo passa por ele. Se tivesse sido mais feliz na finalização seria ele o homem do jogo, mas também se ele finalizasse melhor já não estaria por cá há algum tempo. O Trubin foi decisivo ao defender o penálti que poderia ter virado o jogo de pernas para o ar, mas eu sei como funciona a mentalidade dos nossos adeptos, por isso não sei se será suficiente para o deixarem em paz por muito tempo. Muitos deverão continuar a escrutinar os noventa minutos à procura daquela falha que lhes permita afirmar de forma triunfante 'eu disse logo que ele não era bom'. O principal que eu retiro deste jogo nem foi o penálti defendido porque há sempre alguma dose de felicidade nisso, foi sim a enorme diferença no que diz respeito ao critério a jogar com os pés. Ele não é daqueles guarda-redes que se limita a chutar a bola para a frente quando lha passam (e não querendo eu atacar o Vlachodimos só para valorizar o novo guarda-redes, a verdade é que essa era quase sempre a opção dele) e procura sempre na medida do possível colocar a bola de forma jogável num colega. Vimo-lo fazer isso diversas vezes neste jogo, e um dos golos até começa nos pés dele. Gostaria que o nosso treinador deixasse de utilizar o Aursnes como pau para toda a obra. Não beneficia o jogador (foi dos mais apagados da equipa) nem a equipa.
Estamos apenas na sexta jornada, mas segue-se um jogo que eu não tenho dúvidas que será daqueles em que jogamos potencialmente a época. É um jogo muito decisivo em termos de motivação (nossa e dos adversários). E eu espero que, ao contrário daquilo que vi a época passada, tenham incutido na cabeça dos nossos jogadores precisamente isso. Eles têm que ter a noção de que um jogo contra o Porto não é apenas mais um jogo, e que se entram em campo a pensar assim (ao contrário daquilo que eles fazem sempre) então é meio caminho andado para não o ganhar. Espero também que os meus receios não se confirmem e que não tenhamos mais uma sessão de pastelaria reservada para a próxima sexta-feira. É que fico logo mal disposto assim que anunciam a nomeação dele.
bola nossa
-----
-----
Diário de um adepto benfiquista
Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
-----
para além da bola
Churrascos e comentários são aqui
bola nostálgica
comunicação social
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.