E vão três seguidas. Não há meio da equipa levar um abanão que a tire deste espiral descendente em que ela própria se enfiou. Estamos na fase em que tudo o que pode correr mal corre mesmo, e a descrença parece instalada e com vontade de ficar. Uma vez mais falhámos numa altura decisiva e perdemos de forma quase incrível um jogo que era absolutamente fundamental ter ganho. Depois de tanto e tão bom futebol apresentado durante meses, agora qualquer jogo parece ser um exercício de sofrimento para os adeptos e para a própria equipa.
Em termos de onze nunca há grandes surpresas. Do grupo nuclear de 13-14 jogadores jogam aqueles que estiverem disponíveis, e faltando hoje o Florentino saltou para a titularidade o Neres, recuando o Aursnes para o meio campo. Sobre o jogo, nem vou estar a perder muito tempo a dissertar sobre aquilo que se vai tornando rotina. Contra uma equipa que jogou quase sempre toda enfiada junto à sua área recorrendo às práticas habituais de perdas de tempo e dedicar-se quase em exclusivo a anular o adversário, o Benfica não soube mais uma vez encontrar soluções. Contra uma infinidade de jogadores acumulados no meio, afunilar nunca foi obviamente solução, e explorar as alas também não porque a qualidade dos cruzamentos deixou quase sempre muito a desejar. A percentagem de sucesso dos mesmo foi assustadoramente baixa, e um exemplo concreto disto fica bem reflectido na estatística dos pontapés de canto: o Benfica dispôs de dezanove e praticamente não conseguiu criar perigo a partir de um deles. Aliás, houve vários que tentámos marcar à maneira curta e nem sequer conseguimos chegar a meter a bola na área. Temos unidades nucleares que estão em claro sub-rendimento (casos mais flagrantes são o João Mário ou o Rafa) mas que continuam a ser sempre titulares e até a jogar os noventa minutos, enquanto o nosso treinador espera até aos últimos minutos dos jogos para tentar alterar alguma coisa. Para todo o domínio territorial e em qualquer outra estatística para que se olhe, em termos concretos o Benfica apenas conseguiu criar três ocasiões flagrantes de golo: uma pelo António Silva na primeira parte, que atirou para fora quando tinha tudo para marcar; uma pelo João Mário no início da segunda, em que conseguiu por duas vezes na mesma jogada falhar aquilo que parecia ser mais fácil de fazer; e uma pelo Otamendi mesmo no final, em que o guarda-redes defende quase sem saber como. O Chaves, fazendo muito menos, conseguiu ter duas ocasiões flagrantes, ambas como resultado de falhas grotescas da nossa defesa. Na primeira, em que um jogador do Chaves sozinho enfrenta três dos nossos defesas e acabamos por abrir-lhe uma passadeira vermelha para marcar, foi o Vlachodimos quem nos salvou. Na segunda, uma oferta em bandeja de ouro do Otamendi, marcaram.
O golo do Chaves aliás é um exemplo daquilo que escrevi antes: tudo o que pode correr mal, corre mesmo. Mesmo a acabar o jogo o Otamendi tem uma oportunidade flagrante para marcar. O guarda-redes defende quase sem saber como (e no lance fiquei com a sensação que depois acabou por haver penálti claro sobre o mesmo Otamendi, mas não houve coragem ou vontade do VAR para o assinalar - isto era um lance de VAR, não para o árbitro de campo). Praticamente na resposta, um chuto para a frente sem qualquer nexo, o Otamendi escorrega - aliás, não sei bem o que é que se passou para que tantos dos nossos jogadores tivessem escorregado durante o jogo - e uma equipa que jogou completamente para o empate e praticamente nada fez para ganhar o jogo, marca e ganha. Foi injusto? Tremendamente. Mas nas tradicionais palavras nestas situações, pusemo-nos a jeito? Completamente. Quanto ao nosso treinador, mais uma vez desilude ao não mostrar reacção no banco. Mexe tarde na equipa e parece mexer mal. A precisar de marcar, não arrisca, simplesmente faz troca por troca e tira do jogo o Gonçalo Ramos. Eu que nem sou fã do Musa achei que se havia jogo onde se justificaria a sua entrada era este. Acabou por entrar a um minuto do final. Não é que eu seja apreciador de reacções de pânico, mas a excessiva calma do Roger Schmidt perante os sucessivos cenários de descalabro que se vão desenrolando à sua frente é difícil de aceitar. E preocupa-me que fique com a sensação de que ele não tem noção do sentido de urgência que certos jogos têm. Abordámos o jogo com o Porto como se fosse apenas mais um jogo como qualquer outro, eles como sempre abordaram-no como uma guerra e como se as suas vidas disso dependessem. Vimos o resultado. Hoje era outro jogo que tínhamos que ganhar de qualquer maneira, mas olhando para a nossa equipa nunca me pareceu que tivessem noção disso. O resultado está mais uma vez à vista
Obviamente que não consigo fazer destaques. Posso apenas assinalar que, mesmo correndo mal as coisas, o Neres estava a ser dos mais interventivos e quem mais parecia querer tentar alguma coisa. Foi o primeiro a sair. O miúdo João Neves não entrou mal e acabou por mexer um pouco com o jogo.
No espaço de uma semana deitámos fora seis dos nossos pontos de vantagem no campeonato e hipotecámos o nosso futuro na Champions. Em relação a isto, de assinalar também que o Inter perdeu hoje contra o Monza em casa, e que tem apenas uma vitória nos últimos oito jogos. Precisamente a da passada terça-feira. Agora não é tempo de dizer para termos calma porque ainda estamos em primeiro com quatro pontos de vantagem, e que somos os únicos a depender apenas de nós próprios. É sim tempo de dar um safanão nesta equipa - se for preciso até um murro nas ventas - para que se enxerguem e percebam tudo o que está em jogo. Não é altura de pedir o apoio dos adeptos, porque esse sempre esteve lá, de forma incondicional, e vamos enchendo a Luz e os campos deste país jogo após jogo. É sim altura de corresponder a esse apoio e às nossas expectativas. O Benfica não pode perder três jogos seguidos e responder com apelos à calma como se nada de extraordinário se passasse. Tenham noção.
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