Assistimos a uma exibição muito sólida e consistente por parte do Benfica, que chegou a ser sufocante para o Casa Pia. A vitória tranquila surgiu com toda a naturalidade, sem que o Casa Pia pudesse fazer o que quer que fosse para a contestar - o Benfica controlou e dominou o jogo desde o apito inicial até ao final e somou o quarto jogo consecutivo sem sofrer golos.
Antes do jogo assistimos a uma merecida homenagem ao André Almeida, que terminou uma ligação de onze anos ao Benfica. Para o jogo, o nosso treinador escolheu os mesmos onze de Arouca, assinalando-se os regressos do Draxler e do Rafa aos convocados. O Benfica entrou no jogo disposto a não dar qualquer tipo de esperança ao Casa Pia. Ainda mal se tinha cumprido o primeiro minuto de jogo e já o João Mário desperdiçava uma grande ocasião de golo, atirando para a bancada depois de aparecer solto de marcação na área. O Benfica foi sufocante para o adversário, exercendo sempre uma pressão muito alta que não deixava tempo ao Casa Pia para se organizar e fazer a transição. O Florentino, que é dos melhores recuperadores de bola, jogou quase sempre mais adiantado no campo do que o Chiquinho, que assumiu diversas vezes a organização desde terrenos mais recuados. O Casa Pia foi uma decepção. Anunciado como uma equipa que pratica um futebol positivo e que não aposta no autocarro, o que eu vi desde o primeiro instante foi uma equipa completamente defensiva, a tentar queimar tempo em qualquer reposição de bola (incluindo lançamentos de linha lateral) e que se limitava a tentar meter bolas longas para a velocidade do Godwin - que o António Silva meteu completamente no bolso. O Benfica foi uma equipa muito parecida à que tinha sido em Arouca. Ao contrário do futebol apresentado muitas vezes no início da época, não tivemos tanta explosividade e correrias nas transições (também seria difícil frente a uma equipa que não saía lá de trás) e em vez disso foi um futebol mais paciente, com muitas trocas de bola e que privilegiou a posse - que chegou a ter números avassaladores na primeira parte. Confesso que isto chegou a enervar-me um pouco em algumas situações, em que parece que os nossos jogadores exageram e querem sempre adornar ainda mais os lances com mais um passe - ou como se costuma dizer, parece que querem entrar com a bola na baliza. O carrossel ofensivo que apresentámos na frente, com os quatro jogadores mais adiantados quase sem posição fixa e em trocas constante, num processo ofensivo que diversas vezes chega a envolver oito jogadores devido às subida dos médios e dos laterais, também acaba por proporcionar várias opções de passe ao portador da bola, o que encoraja este jogo. Voltámos a estar perto do golo quando o guarda-redes Ricardo Batista defendeu por instinto, com o pé, um desvio de calcanhar do Gonçalo Guedes, mas só conseguimos inaugurar o marcador aos trinta e cinco minutos, pelo cada vez mais inevitável João Mário. E ao contrário daquelas jogadas todas elaboradas, foi num lance bem simples: passe em profundidade do Grimaldo para o Neres ganhar a linha de fundo, sobre a esquerda, e depois fazer o passe atrasado para o João Mário marcar um penálti em andamento. Cinco minutos depois, novo golo do João Mário, novamente a nascer na esquerda: abertura do Chiquinho à entrada da área para o Grimaldo, e cruzamento rasteiro a fazer a bola atravessar toda a área sem que a defesa do Casa Pia conseguisse o corte, para o João Mário entrar de carrinho e marcar ao segundo poste. E poucas dúvidas restantes sobre o desfecho do jogo.
A segunda parte foi mais monótona. O Casa Pia pouco alterou a sua forma de jogar, e o Benfica também não, por isso foi mais uma vez muita posse de bola, muita circulação, mas poucas situações de finalização. Acho que a grande novidade foi o facto do Casa Pia ter feito um remate, que acabou por acertar no seu próprio jogador, para depois a recarga ir para a bancada - acabaram, tal como o Arouca, com zero remates à nossa baliza. A estratégia deles continuou a ser mais ou menos a mesma, com a diferença de terem feito entrar o armário do Clayton para o ataque, e portanto passaram a tentar esticar o jogo com bolas longas para ele em vez do Godwin. Já que a velocidade do segundo não tinha dado grandes resultados, talvez o físico do primeiro tivesse melhor sorte (não teve). O primeiro grande momento de perigo na segunda parte foi uma cabeçada do Aursnes ao segundo poste depois de um cruzamento largo do Neres na direita, com a bola a passar perto da baliza. Só na segunda metade é que as coisas animaram um pouco mais, com o mote a ser dado pelo terceiro golo, da autoria do Bah. Num raro assomo de atrevimento, o Casa Pia apareceu a pressionar em bloco junto à nossa área. Desde a bandeirola de canto, o Grimaldo conseguiu colocar a bola no Chiquinho, que a fez seguir para a zona central para o João Mario, e este abriu na direita para a corrida do Bah. Numa rara ocasião para uma transição rápida, o Bah correu dois terços do campo com a bola, numa situação de três para três, e ao chegar à entrada da área adversária flectiu para o meio. Quando se esperava que passasse a bola para o Gonçalo Guedes, que aparecia solto mais à esquerda, decidiu-se pelo remate com o pé esquerdo, que saiu forte e fez a bola desviar ligeiramente no pé de um defesa, só parando no fundo da baliza. Um bonito golo, que veio animar mais as bancadas de um Estádio da Luz praticamente cheio e dar nova vida aos minutos finais do jogo. O Benfica aproveitou para trocar o Gonçalo Guedes e o Neres pelo Draxler e o Musa imediatamente a seguir ao golo e logo a seguir o Aursnes voltou a desperdiçar uma boa ocasião de cabeça, depois de um grande cruzamento/passe do João Mário. A cinco minutos do final a oportunidade para assistirmos ao regresso do Rafa, que não precisou de muito tempo para dar sinal de si: desmarcado por um passe do Grimaldo para as costas da defesa, isolou-se e só não marcou porque o guarda-redes defendeu com a cara quando o Rafa lhe tentou picar a bola por cima. E foi com o Benfica em cima do adversário que o jogo chegou ao final, em clima de festa.
Dois golos e uma assistência (tecnicamente o golo do Bah foi uma assistência dele) o João Mário foi o homem do jogo. Por vezes parece-me jogar sem a intensidade que eu aprecio normalmente num jogador, mas ele compensa isso com a inteligência para ler o jogo e saber aparecer no sítio certo quando é preciso, ou para trazer os colegas para o jogo. Achei também que o Florentino fez um grande jogo, aparecendo muitas vezes até junto da área adversária a envolver-se no jogo ofensivo da equipa - um aspecto em que ele tem evoluído bastante esta época. O Grimaldo não esteve tanto em jogo como habitualmente, mas foi decisivo na mesma, participando nas três jogadas de golo (e quase ofereceu mais um ao Rafa). Uma menção também para o Aursnes. Acho que é um luxo para qualquer equipa ter um jogador assim no plantel. Seja qual for a posição ou função que lhe peçam para assumir, ele cumpre com eficiência, e tem sempre uma enorme entrega ao jogo. Acho que a época não acaba sem o vermos a jogar a defesa central. Por último, o Chiquinho voltou a cumprir no papel que era anteriormente do Enzo, e não foi por aí que a equipa acusou qualquer fraqueza.
Mais um pequeno passo dado na direcção certa. Com este resultado garantimos que quando o compadrio do Altis entrar em campo para disputar o próximo jogo, os nossos perseguidores mais directos estarão com oito pontos de desvantagem, com ambas as equipas a precisar desesperadamente dos três pontos. Mas o mais provável é termos mais um encontro rijamente disputado, com pouco futebol, muita quezília e discussão, e no final quando for para desempatar entre quem será mais ajudado, a balança penderá como habitualmente para os ladrões mais experimentados, que eles já têm muitas décadas disto. Depois acabam ambos a acusarem-se mutuamente de terem sido beneficiados e a queixarem-se de terem sido os mais prejudicados. Quanto a nós, o bom de exibições como esta (e as dos jogos anteriores) é que esvaziam completamente de argumentos os nossos inimigos. Não têm nada a que se agarrar para criar polémica, e até a esperança de aproveitar e prolongar a novela da saída do Enzo está a sair furada, também por culpa dos desempenhos do Chiquinho. O Chiquinho não é o Enzo, nem vamos fingir que ele é. Mas os benfiquistas tudo farão, como ontem o Estádio da Luz o mostrou, para pelo menos o fazer acreditar que ele pode ser tão bom como ele.
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