Começo com uma pergunta: o que aconteceu hoje foi surpresa? Houve algum benfiquista que tenha ficado genuinamente surpreendido com o facto do Benfica ter sido incapaz de ganhar ao Moreirense? É que para mim era bastante previsível, e depois de mais uma hora e meia de uma inaptidão desesperante, ainda mais natural foi.
O onze apresentado pelo Benfica foi bastante previsível, talvez com a pequena novidade do António Silva ter regressado à titularidade no lugar do Tomás Araújo. O regresso à titularidade do Di María era esperado, sobretudo depois da lesão do Aursnes, tal como era previsível que o Kökçü jogaria encostado à esquerda. Obviamente que não é isso que explica o mau futebol praticado pelo Benfica, os nossos problemas vão muito para além de uma simples invenção por parte do nosso treinador e não seria por o turco se deslocar para o meio que magicamente passaríamos a jogar bom futebol. Mas no meio de tanta coisa, o pormenor da teimosia em colocar um jogador fora da sua posição apenas contribui para aumentar ainda mais a minha irritação - já escrevi que hoje em dia para mim a experiência de ver o Benfica jogar significa alternar entre dois estados de espírito possíveis: aborrecimento ou irritação, e a irritação é o pior dos dois. O jogo foi mais daquilo que se esperava. Domínio territorial quase completo por parte do Benfica, com o adversário acantonado junto da sua área e a tentar sair em contra-ataque sempre que o Benfica perdia a bola. O domínio do Benfica, como vem sendo habitual, foi pífio, porque salta à vista de qualquer um que não parece existir um plano para o futebol jogado pelo Benfica (e se existe, então os jogadores são incapazes de o colocar em prática). A equipa não aparenta ter uma estratégia definida para chegar ao golo. E sendo isto por demais evidente, depois é ainda pior quando no final ouvimos o nosso treinador dizer que '[...]não sei porque temos tantos problemas a marcar golos' (sic). Se não sabe, então é porque já perdeu a capacidade para ser solução e por isso faz parte do problema. A estratégia do Benfica para marcar golos é, para mim que me limito a ver jogos, 'andar por ali com a bola'. Não há rotinas, movimentações que aparentem ser trabalhadas, simplesmente levamos a bola para as imediações da área adversária, metemos uns jogadores por lá e depois andamos por ali a trocar a bola, na esperança de que alguma sobre para nós, ou que um adversário cometa uma asneira qualquer. E para não estar só a bater no negativo, até achei que o Benfica esteve relativamente bem na parte da recuperação da bola - houve agressividade e capacidade para quase sempre recuperar rapidamente a bola, ainda em posições bastante adiantadas, o que permitiu manter o tal domínio territorial durante a maior parte do jogo. Mas se depois não sabemos o que fazer com esse domínio e essa posse de bola, de pouco serve. E para piorar, das poucas vezes que permitimos espaço ao adversário, quase sempre isso resulta numa jogada de perigo para a nossa baliza. Levámos logo com um aviso a acabar a primeira parte, em que só não fomos a perder para o descanso porque o golo do Moreirense, num contra-ataque após uma perda de bola no meio campo, foi anulado por falta evidente sobre o Barreiro.
Para a segunda parte regressou o Renato no lugar do Florentino e até esteve bem no jogo, que melhorou um pouco. Ainda tivemos algumas situações de finalização durante a fase inicial do segundo tempo (sobretudo nos pés do Pavlidis) mas com o mais do que expectável nervosismo a aumentar à medida que o nulo se arrastava fomos perdendo cada vez mais lucidez e criando cada vez menos perigo. As substituições foram também mais ou menos previsíveis, deu para adivinhá-las quase todas - a começar pela entrada do Marcos Leonardo para segundo avançado, e depois do Rollheiser e do Cabral já na fase de desespero. O brasileiro acabou por entrar para o lugar do Pavlidis, o que gerou descontentamento, mas se o grego ficasse em campo ficaríamos a jogar com três pontas-de-lança. O que seria inútil, porque a falta de ideias por parte do Benfica sobre como chegar ao golo é de tal forma absurda que nem sequer somos capazes de jogar no chamado chuveirinho na fase do desespero. Precisamos desesperadamente de marcar, e a bola raramente entra na área e anda ainda e sempre a circular, e a esbarrar na floresta de adversários que está plantada em frente à sua área. As excepções foram quase sempre dadas pelo Carreras, que por diversas vezes conseguiu furar pelo lado esquerdo e entrar na área. Infelizmente, o número de vezes em que conseguiu fazer isto foi exactamente igual ao número de vezes em que depois decidiu mal e ou fez um cruzamento para ninguém, ou colocou a bola directamente nos pés de um adversário. As bolas paradas foram também o costume - nem um lance de perigo resultou delas. E como quando as coisas correm mal, depois é sempre tudo a ajudar a empurrar para baixo, perto do final o Carreras fez mais um passe directamente para os pés de um adversário, só que desta vez fê-lo no nosso meio campo defensivo e quando a equipa tentava sair para o ataque. Fomos apanhados em contra-pé, e depois de progredir até à área o nosso adversário fez um remate que parecia não ir causar grande perigo, mas seguindo a regra de que tudo corre mal, a bola conseguiu ressaltar no António Silva e trair o Trubin, indo entrar mesmo encostadinha à base do poste. O jogo parecia irremediavelmente perdido, e só não o foi porque em período de descontos caiu-nos um penálti do céu, arrancado pelo Barreiros, que o Marcos Leonardo converteu. O penálti é ainda mais surpreendente porque foi assinalado depois de mais uma arbitragem ao nível da do fim-de-semana passado, com um critério completamente desequilibrado contra nós, sobretudo no que diz respeito à disciplina - o Moreirense teve carta branca para bater à vontade, o Benfica à sexta falta já tinha quatro amarelos. É indiferente, o empate é tão vergonhoso como a derrota o teria sido, e uma demonstração cabal da actual incompetência da nossa equipa e da falta de qualidade do nosso futebol.
Tenho muitas dificuldades em escolher alguém para destacar. Talvez uma menção ao Renato, que conseguiu com a sua entrada melhorar um bocadinho o que já tão mau era. O Pavlidis lutou na frente mas parece cada vez mais um homem só, quase nunca servido em condições. O António Silva, que agora parece andar muita gente mortinha por queimar, fez um bom jogo, e não merecia de todo a infelicidade de ser nele que a bola bateu para acabar no golo do Moreirense.
Acho que de uma forma fria, olhando para o que está a ser produzido face ao que está a ser investido e à qualidade individual dos jogadores que compõem o nosso plantel, me parece cada vez mais evidente onde está o problema. Não me quero alongar mais sobre este assunto, parece-me é que é daquelas coisas que não se podem continuar a empurrar com a barriga à espera que magicamente as coisas melhorem, porque aquilo que temos visto é precisamente o contrário, uma tendência para o problema se agravar. Em quatro jogos já perdemos cinco pontos e não somámos uma única exibição convincente, isto contra quatro adversários de qualidade manifestamente inferior. Qual é o ponto a partir do qual chegaremos à conclusão de que a época está irremediavelmente perdida? Estamos à espera dele para agir? Nada me move pessoalmente contra o actual treinador do Benfica, eu apenas desejo um treinador que saiba colocar a equipa a jogar bom futebol. E o nosso actual treinador parece neste momento ser não só incapaz de o fazer, como mesmo de perceber que a equipa joga mau futebol - normalmente no final dos jogos vem dizer que a equipa jogou bem. É que é ainda mais difícil resolver um problema quando não se consegue reconhecer que temos um problema.
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