Sabemos que, nos dias que correm, é cada vez mais difícil traçar os limites da obra de arte. Aceitamos que um objecto não é uma obra de arte que se esgote em si e que a obra de arte transcende o objecto.
O nosso Pablito entrava em campo e todos éramos colocados diante da promessa do desconhecido, do nunca visto, do imprevisível, do incompreensível para quem espartilha o futebol na mediania do diminutivo, do “certinho”. Nas bancadas competia-nos decifrar e compreender a arte assinada pelo nosso Pablito. Ver Aimar a jogar foi ver a possibilidade de observar como a criação artística ultrapassa o objecto artístico. Para nós, na bancada, a assinatura da “obra de arte” dizia apenas Pablito. Aimar é o nome que fica na história, nos registos escritos. Pablito é o nome dado nas bancadas, nas conversas entre os que, durante cinco anos, tiveram o privilégio de o ver com o “manto sagrado” do Benfica. Aimar é o nome que aparece no placard dos estádios e nas fichas de jogo. Pablito é o nome com que a bancada respondia ao sorriso franco com que concluía a sua participação no jogo. Só quem viu jogar o Pablito pode perceber que, apesar de a bola ser redonda, só alguns a conseguem repetidamente fazer sair redonda dos seus pés. Pablito foi durante cinco anos o maestro com a função de harmonizar o caos. Sucedeu ao nosso Rui Costa, irmanando-se os dois nessa arte suprema que é a de serem individualmente os melhores, exactamente porque eram os que melhor serviam as individualidades que tinham o privilégio de jogar com eles.
Para nós, na bancada, aquele número 10 chamado Pablito foi um dos nossos, um dos benfiquistas. E os nossos ficam sempre connosco.
_____
Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 10 de Junho, e publicado na edição de 14/06/2013 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
O ano começou com uma boa notícia para o benfiquismo: Saviola renovou o contrato com o Benfica.
Independentemente da melhor ou pior forma que este argentino atravesse, a sua supina qualidade é inquestionável. O pior Saviola é melhor do que a esmagadora maioria dessa cinzenta mediania de caceteiros esforçados que se arrastam pela maioria dos nossos relvados. O melhor Saviola é arte e inteligência em campo. Com Saviola em campo, os colegas percebem que tudo se pode tornar mais fácil, que aquele espaço entre os defesas e o guarda-redes passa a ser uma probabilidade quando muitas vezes parece uma impossibilidade.
Saviola e Aimar são, por mais que custe a muitos dos teóricos do nosso futebol, os únicos futebolistas no futebol português que têm uma dimensão verdadeiramente mundial. E, para exemplo de muitos colegas de profissão que têm uma dimensão meramente mediana, demonstram publicamente uma humildade que apenas os engrandece. Saber que Saviola renovou é sinónimo de que os que são verdadeiramente grandes sabem estar ao serviço dos clubes ainda maiores.
Em sentido contrário, ficamos a saber que Ruben Amorim se sente incomodado no Benfica. Não conheço os motivos que levam a que um benfiquista que tudo teve para se vir a tornar um símbolo, um capitão, uma referência, aparentemente queira sair. Ainda assim, nós, adeptos, vamos sentindo e fazendo sentir na bancada que nos identificamos com aqueles que se identificam connosco e não com os que viram as costas ao Clube.
Ficam os exemplos e a certeza de que há quem saiba reconhecer o bem que tem e outros que insistem em não perceber que estão bem. Ficam os exemplos dos que ficam na memória e dos que caminham para o esquecimento.
_____
Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 03 de Janeiro e publicado na edição de 06/01/2012 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
A expressão não fez parangonas, não deu para grandes comentários, nem deu azo a que os pasquineiros tentassem criar uma crise artificial no seio do Benfica. A expressão era simples, Jorge Jesus disse que Aimar tinha a capacidade de transformar, no futebol, a ciência em arte.
Esta capacidade referida por Jorge Jesus vai ao encontro da ideia do professor Manuel Sérgio de que não há ciência sem imaginação. Ou seja, para que a sublimação se verifique é necessário esse arrojo de transformar os postulados científicos em algo que os transcenda: em arte. Interpretar dinamicamente os conceitos e os princípios de jogo defendidos por um treinador não está ao alcance de qualquer futebolista. Acrescentar, com qualidade, a essa dinâmica a tal imaginação está apenas ao alcance dos predestinados.
Temos, ao longo dos anos e mesmo após a geração de Eusébio, tido a felicidade de ver com o nosso emblema alguns desses predestinados. Chalana acima de todos, porque era o mais desconcertante, o mais imprevisível, o que conseguia, pela técnica e velocidade de execução, desequilibrar o adversário, empolgar a sua equipa e maravilhar plateias. Conheço muitos que, não sendo benfiquistas, iam à Luz para apreciar a arte de Chalana.
Actualmente é Aimar quem melhor sublima o futebol no nosso Benfica. Estranhamente, não tem o perfil dos que costumam empolgar as plateias. Não corre desenfreadamente pelas alas, não finta sucessivamente adversários, não surge com aquela irreverência de quem rejeita amarras tácticas e cria arte como solista. Não, o futebol em Aimar é arte na medida em que tem a imaginação para obrigar a que todos os que o rodeiam joguem com mais arte do que a que pensavam ter. Ou seja, Aimar tem a arte de potenciar a arte nos companheiros de equipa. E isto é uma ciência que poucos têm.
_____
Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 11 de Outubro e publicado na edição de 14/10/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
Houve e há futebolistas que, pela sua capacidade de imprimir a todas as movimentações e decisões individuais um sentido colectivo, deixaram a sua impressão digital no imaginário dos adeptos.
Futebolistas como Johan Cruijff, Enzo Francescoli, Rui Costa ou Xavi exemplificam a capacidade de perceber o futebol para além do momento em que individualmente se tem a bola no seu domínio. De entre os vários nomes que se podem juntar a este grupo, destaco Pablo Aimar. “El Mago” Aimar é superlativo a pensar o futebol como uma dinâmica colectiva. À sua rapidez de raciocínio, que o leva a ter aquele centésimo de segundo que lhe permite antecipar a movimentação do adversário e da bola, junta uma invulgar qualidade de execução técnica. Olhamos para Aimar e vemo-lo dirigir toda uma equipa, descobrir espaço entre linhas adversárias, antecipar um desequilíbrio defensivo adversário, forçar esse mesmo desequilíbrio e obrigar a que todos os que o acompanham na sua movimentação ofensiva acabem por tirar partido das suas decisões. A capacidade que Aimar tem de descodificar o propósito das movimentações globais de companheiros e adversários manifesta-se com uma espontaneidade tal que aparenta ser um simples “puro acontecer”. Nessa ilusória simplicidade está encerrada a complexidade de perceber a sua acção como uma função em que nada é aqui e agora, porque todo o ‘aqui’ e ‘agora’ só existem com efectividade se forem a preparação de um espaço e tempo futuros. Se todos temos a percepção de que não há serviço colectivo nos futebolistas que não são capazes de se encontrarem com a equipa, basta ver as orientações que Aimar dá aos seus companheiros para perceber como há futebolistas que “obrigam” a que todos se encontrem entre si, de forma dinâmica.
Para além disso, há ainda a consciência de que em Aimar a vida se manifesta com mestria muito para além do futebol. Aliás, é na sua conduta como homem e cidadão que começa o futebol de autor que o imortaliza.
_____
Artigo de opinião escrito e enviado para a redacção do jornal "O Benfica" no dia 09 de Agosto e publicado na edição de 12/08/2011 do jornal "O Benfica".
[Se alguém quiser manifestar-me a sua opinião, pode fazê-lo para este endereço: tertuliabenfiquista@gmail.com]
“Os adeptos mostraram-se muitos entusiasmados. É sempre bom jogar numa equipa como esta, que conta com este tipo de adeptos, que apoiam sempre os jogadores.” Pablo Aimar dixit.
Gosto de Aimar, é um excelente futebolista e mais inteligente do que aqueles adeptos que acham que "sempre" é apenas quando ganham.
bola nossa
-----
-----
Diário de um adepto benfiquista
Escolas Futebol “Geração Benfica"
bola dividida
-----
para além da bola
Churrascos e comentários são aqui
bola nostálgica
comunicação social
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.