Quando Carlos Queirós trilhava a sua triunfante carreira de treinador adjunto e carregador de pinos de Alex Ferguson, alguma imprensa portuguesa procurava-o para opinar. E o dito Queirós opinava sobre coisas tão importantes como o cabelo do Ronaldo, as horas a que Soares Franco estava mais parecido com um peru na véspera do Natal, a dor de corno que lhe provocavam os sucessos de Scolari, e outros assuntos interessantes que estavam em comunhão com a sua série de insucessos enquanto treinador principal de equipas seniores.
Queirós espumava contra uns quantos ódios de estimação e logo alguns fazedores de opinião e de ocasião se babavam em loas ao adjuntito de Ferguson. Em Portugal chegaram a tentar criar a peregrina ideia de que Queirós era o grande responsável pelo sucesso do clube onde se arrastava como treinador adjunto e tradutor de portugueses e brasileiros imberbes.
Até que um dia, há sempre um dia, Queirós (então adjunto de Ferguson) disparou contra a falta de qualidade dos pontas-de-lança portugueses. Calaram quase todos os que podiam ir à selecção: calou o Pauleta, calou o H. Almeida (este ainda bem, pois tem um domínio da língua materna idêntico ao do Jorge Jesus), calou o Postiga, calou o Makukula… não calou o Nuno Gomes. O Nuno era um dos capitães de equipa, salvo erro, na altura até era o capitão de equipa. Como capitão de equipa reagiu. Defendeu os pontas-de-lança portugueses. Fez o que se espera de um capitão.
Qualquer treinador que soubesse identificar uma liderança e que não tivesse medo de um líder ficaria satisfeito. Mas para que isso assim acontecesse precisaria esse mesmo treinador de saber liderar. Queirós não ficou satisfeito.
Quando Queirós (para felicidade dos rui santos que por ai vegetam) regressou à condição de assalariado da Federação, começou a mostrar que Nuno Gomes não teria lugar na selecção nacional. Nuno Gomes começou a pagar a factura de ter defendido a selecção que o ex-adjunto agora treina.
Assim, Nuno Gomes - com 27 golos em 75 internacionalizações e que está apenas a dois cinco golos dos 29 32 de Figo em 127 internacionalizações - não poderá chegar a ser o terceiro melhor marcador de sempre da Selecção.
Figo agradece e a Nike também. Queirós agradeceria que Nuno Gomes atirasse a toalha ao chão para não ficar com o ónus da vergonha que está a promover. Liedson agradece, pois poderá jogar patrioticamente por Portugal, atendendo a que não tem possibilidades de cheirar o balneário da selecção brasileira.
E, assim, em poucas penadas, Queirós conseguiu destruir uma ideia de selecção nacional, para criar um grupo de excursionistas à selva. Um grupo sem identidade, desenraizado, sem líder no balneário… mas com líderes que, à distância de um telefonema, influenciam convocatórias da selecção nacional em proveito próprio e em prejuízo alheio, em prejuízo da Selecção.
Queirós continua a mostrar que a porcaria nunca será varrida da Federação enquanto a vassoura estiver mais suja do que porcaria que supostamente quer varrer.
O problema de Carlos é que é um Queiroz numa terra em que o julgam Queirós. Se o avaliassem como Queiroz, certamente que o perceberiam. Mas não, isto é terra de choldra e de choldra não passará.
Falemos de Queiroz e não do outro. Queiroz é um iluminado inovador e, como todos os iluminados inovadores (veja-se Santana Lopes outro adiantado mental… talvez daí resulte o choque de egos), é um incompreendido. Ninguém compreende que Queiroz não está agarrado à táctica do quadrado que tão bons resultados deu em Aljubarrota ou à táctica do losango que tão bons resultados dá com Mourinho (uma espécie de Condestável) e tão peculiares resultados dá com Paulo Bento (uma espécie de padeira). Estes conceitos medíocres como o do losango já não fazem sentido na pós-modernidade da geometria futebolística. Queiroz sabe-o. Queiroz revoluciona e evoluciona, criando um novo conceito de arte e geometria futebolística assente nos pressupostos do suprematismo.
Logo, há que transgredir, transgredindo a própria transgressão, chegando à transfiguração. Assim, tal como a pintura, o futebol não deve ter um carácter objectivo. Olhando para a táctica queiroziana percebemos que a inspiração surge do tríptico de Malevich: a Cruz Negra, o Círculo Negro e, essencialmente, o Quadro Negro. Este último é, obviamente, o primeiro e único que a choldra conseguiu percepcionar para o futuro.
A culpa é da choldra que não percebe Queiroz. Eu, por via das dúvidas, passo a assinar como Pherreira. É outro cachet.
(Malevich's dynamic suprematism: imagem de uma das obras que inspirou o 'desenho táctico' de Queiroz. O tal que substitui os losangos e afins)
Pedro Ph. Pherreira.
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[post actualizado com um modelo de observação aproximado ao empirismo (seja lá o que isto quer dizer) da táctica queiroziana]
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