Pontapé de saída na Liga, e uma vitória tranquila na estreia. O Arouca nunca foi um adversário capaz de causar problemas e o resultado foi-se avolumando com naturalidade até se fixar nos quatro golos sem resposta, apesar do Benfica ter jogado toda a segunda parte num ritmo bastante pausado.
Foi exactamente com o mesmo onze do jogo europeu que o Benfica se apresentou em campo, e sem surpresas assistimos a um jogo de sentido quase único. Foi bom termos conseguido aquilo que é sempre importante em jogos da liga portuguesa, que é marcar cedo. Foi aos oito minutos, num jogada que começou numa boa iniciativa individual do João Mário na esquerda, continuou numa tabela com o Rafa que, de primeira, soltou o Grimaldo, e o cruzamento em esforço já sobre a linha de fundo foi ter com o Gilberto, que apareceu fulgurante na marca de penálti a fuzilar a baliza de cabeça, como se de um ponta-de-lança se tratasse. Uma jogada e uma finalização muito bonitas de se ver. Obviamente que o golo dá tranquilidade, mas pouco mudou a forma de jogar do Arouca. Continuou afincadamente enfiado na defesa e a queimar tempo quando podia, aproximando-se poucas vezes da nossa baliza. Mas o jogo do Benfica também não foi tão fulgurante como nos anteriores, e não vimos a catadupa de situações de golo doutras ocasiões. A meio da primeira parte o João Mário saiu lesionado e foi substituído pelo Chiquinho, que teve bastante menos influência no jogo. O segundo golo acabou por surgir com alguma naturalidade já perto do intervalo, embora o Arouca tenha conseguido entupir o jogo atacante do Benfica com alguma eficácia durante a primeira parte. A jogada é quase toda mérito do Rafa, que numa iniciativa individual conseguiu entrar na área do Arouca pela esquerda, deixando vários adversários pelo caminho, e depois a tentativa de assistir o Gonçalo Ramos foi interceptada por um defesa, levando a bola a ressaltar noutro e a ir para a cabeça do Ramos, que a enviou à barra para depois o Rafa fazer o golo quase em cima da linha. Já em cima do intervalo, após intervenção do VAR um defesa do Arouca foi expulso após falta sobre o Rafa à entrada da área e o Benfica ainda conseguiu chegar ao terceiro, num remate do Enzo na meia lua a aproveitar um ressalto a um cruzamento do Gilberto. Tal como contra o Midtjylland, jogo resolvido ao intervalo.
Na segunda parte o jogo foi bem menos interessante, pois o Benfica jogou num ritmo bastante pausado e o Arouca continuou a jogar completamente à defesa. Talvez afectada pela decisão (na minha opinião, demasiado severa) de expulsar o jogador do Arouca, a arbitragem ajudou à festa com mais algumas decisões no mínimo bizarras, como os amarelos ao Florentino e ao Rafa, a não expulsão por acumulação de amarelos do defesa gigante inglês do Arouca ou o fechar dos olhos a um empurrão flagrante ao Gonçalo Ramos na área. Apenas mais um golo, já na fase final do encontro, quando o Bah assinalou a estreia pelo Benfica assistindo o Rafa com um cruzamento tenso e rasteiro para que este finalizasse na pequena área. Em relação ao jogo, achei curioso que (também naquela lógica habitual dos nossos adversários do 'para a próxima é que vai ser, que estes eram fracos') os nossos adversários, inimigos ou detractores depositassem esperanças no Arouca para começar já a deitar areia na nossa engrenagem. Não tem qualquer lógica, mas a verdade é que muitos achavam que o Arouca seria um adversário mais complicado do que o vice-campeão dinamarquês. Mas bastaram uns minutos de jogo para compreender porquê: não é no adversário que eles depositam esperanças, é no futebol português em geral. O futebol português é talvez o maior viveiro de anti-jogo da Europa, e isto é um cenário fomentado e elogiado quer pela estrutura vigente do futebol português, quer pela comunicação social, onde qualquer feito atingido por via do anti-jogo é elevado aos píncaros, enquanto que a equipa que sofre as consequências do mesmo é arrasada, na lógica brutal do 'resultadismo'. Um exemplo: o Gonçalo Ramos foi derrubado sobre a linha da área aos 19 segundos de jogo. Entre constantes protestos, avanços e recuos da barreira e outras diatribes, o livre acabou por ser marcado já depois dos dois minutos e meio. Perderam-se mais de dois minutos com o jogo parado para marcar um simples livre. O Arouca veio à luz jogar com uma linha defensiva de seis jogadores e a queimar tempo nas reposições desde o apito inicial, fórmula que não se alterou mesmo ficando em desvantagem cedo no jogo. Depois de ficar reduzido a nove, mesmo a perder, a táctica passou a ser um 5-4-0. A maior parte das equipas na nossa liga especializam-se em não deixar o adversário jogar, e depois são elogiadas por isso. Mesmo quando já tivemos diversos exemplos de treinadores que em equipas ditas pequenas resolvem jogar futebol e acabam quase sempre por levar essas equipas a classificações inéditas, incluindo lugares europeus (Marco Silva, Paulo Fonseca, Ricardo Soares, Pepa são alguns dos exemplos mais recentes) o anti-jogo continua a ser glorificado e cultivado no terreno fértil para isso que é o nosso futebol. Por isso não admira que haja quem pense que um Arouca representa um perigo maior do que o vice-campeão dinamarquês. Enfim, é apenas um desabafo.
Para mim o homem do jogo foi o Rafa, autor de dois golos e uma espécie de joker do nosso ataque. Está a jogar na posição onde sempre pareceu render mais, solto e com bastante liberdade no ataque em vez de estar encostado a uma linha, e acaba por causar diversos desequilíbrios aparecendo um pouco por toda a parte. Destaque para os dois laterais, que estiveram muito activos e criaram várias situações de perigo. O primeiro golo foi marcado pelo Gilberto a passe do Grimaldo, o terceiro nasce de um cruzamento do Gilberto, e o quarto foi uma assistência do Bah. Com as constantes movimentações dos alas para o meio acabam por ser os nossos laterais a dar a largura necessária no ataque e a ser peças fundamentais no futebol que jogamos. Fundamental também é a dupla de médios. O Enzo em apenas dois jogos já mostrou que foi uma contratação em cheio, o jogador de que precisávamos para a posição que dele precisava. É um box-to-box como há muito não tínhamos, com uma visão de jogo que lhe permite começar a criar uma jogada de perigo logo com o primeiro passe que faz à saída da nossa defesa. E o Florentino regressou com vontade de agarrar o lugar, tendo neste jogo até mostrado pormenores que lhe eram pouco vistos no capítulo do passe longo. É daqueles jogadores que permitem que a equipa jogue dez metros mais à frente; um recuperador de bolas incansável que merece os elogios que o treinador já lhe fez. Por último, jogo muito sólido do Morato, que deve ter ganho todos os duelos individuais.
Dois jogos feitos, quatro golos em cada um deles e até fiquei com a sensação de que a equipa não deu tudo o que tinha, porque resolveu-os tão cedo que depois baixou claramente o ritmo nas segundas partes. Estamos a jogar um futebol interessante de ver e que ajuda a tentar esquecer os espectáculos monótonos da época passada, com circulação de bola infindável nas zonas mais recuadas e sem progressão. O Benfica joga um futebol bastante mais vertical quando tem a bola, e quando não a tem a pressão exercida sobre o adversário de forma a recuperá-la é uma coisa de que já não me lembrava ver há alguns anos. Mas tenho também a noção de que o tipo de futebol que jogamos envolve bastantes riscos, e perante os catedráticos do anti-jogo que existem na liga portuguesa ainda iremos sofrer alguns dissabores. A fórmula será mesmo tentar marcar muito mais golos do que aqueles que sofrermos.
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