Numa equipa de futebol, o número 10 é, tradicionalmente, atribuido àquele jogador que se distingue pela sua qualidade técnica acima da média e pela capacidade de utilizar essa mesma virtude em favor da equipa e ‘transformá-la’ em vitórias, não raras vezes “virando” um jogo que não está a correr de feição.
Ser o “10” de uma equipa de futebol é muito mais do que ocupar uma posição no terreno (tipicamente entre o meio campo e o ataque - até porque nem sempre o é...). Ser o “10” é ser aquele jogador que, nos momentos decisivos, é capaz de transportar a equipa para a vitória, marcando aquele golo decisivo ou conduzindo aquela jogada, concluída com aquele passe para golo que só um “10” é capaz de fazer consistentemente. Ou, do nada, fazer uma jogada genial que só um “10” se lembraria de fazer.
Jogando em diferentes posições, em modelos tácticos diferentes e em épocas diferentes, Pelé, Zico, Platini, Maradona e Zidane foram verdadeiros “10”, assim como é actualmente Lionel Messi.
No Benfica, Coluna, Eusébio, Chalana, Rui Costa e Aimar, cada um em seu tempo, cada um à sua maneira, cada um na sua posição, também fizeram jus ao número 10 que envergaram nas costas.
Osvaldo Nicolás Fabián Gaitán (re)confirmou, na 4ª feira passada, no Estádio Vicente Calderón, que também ele tem um lugar na história como “10” do Benfica.
Mesmo considerando que durante vários anos ostentou o nº 20 nas costas, mesmo actuando mais sobre a esquerda, irei sempre associá-lo ao nº10, na certeza de que, como “verdadeiro 10” que é, ainda irá fazer pelo Benfica muitas mais coisas que só um “10” é capaz de fazer. Para além do mais, é vice-capitão (continuando a braçadeira de capitão muito bem entregue ao Luisão).
Mas já que falei do “10” enquanto número conotado com uma determinada posição no terreno, não posso deixar de falar no Jonas. O Jonas “Pistolas”.
A sua superior qualidade técnica, a inteligência com que se movimenta em campo e antevê o desenrolar das jogadas, o empenho com que, não raras vezes, recua no terreno (até junto da nossa área, se necessário) para ajudar em tarefas defensivas, para depois orquestrar jogadas de ataque e, de seguida, concluí-las (muitas vezes com sucesso), levam-me a olhar para ele como o “10 não-oficial” no actual modelo táctico do Benfica. Pode não ter o “10” nas costas (pois esse número está justamente atribuido ao Gaitán). Nos esquemas tácticos das televisões e sites desportivos, é sempre apresentado como (2º) ponta-de-lança. Mas considerando o “10” numa perspectiva funcional, o Jonas é, para mim, esse jogador.
A Família Benfiquista ficou hoje mais pobre, com a partida do nosso antigo Presidente, Fernando Martins.
Recordo Fernando Martins como o primeiro presidente do Benfica de que tenho memória, assim como por ter sido o responsável pela contratação de um dos nossos melhores treinadores: Sven-Goran Eriksson.
Mas provavelemente será pelo fecho do 3º Anel do antigo Estádio da Luz que será recordado pela maioria dos Benfiquistas e não só.
Como todos os presidentes, também foi criticado por algumas das suas decisões, como a transferência de Chalana para o Bordéus ou por ter confiado em Pinto da Costa...
Mas mesmo assim, recoradarei Fernando Martins como tendo sido um grande Benfiquista que, enquanto Presidente do clube (e mesmo depois), sempre procurou aquilo que, no seu entender, era o melhor para o Benfica.
Obviamente, e como foi comentado no post anterior, a questão do treinador do Benfica é muito mais abrangente que a sua manutenção ou dispensa, como aliás quis deixar entender com o último parágrafo.
Para além do mais, as idiossincrasias do futebol português obrigam a que o Benfica tenha de fazer sempre muito mais do que seria exigido, em condições normais, num país normal e num verdadeiro estado de direito, onde a uma certa equipa até a prática do andebol é permitida em jogos de futebol... Ao Benfica estão vedados quaisquer deslizes ou abaixamentos de forma, pois contra o Benfica nunca nenhuma equipa se lembrará de deixar de fora titulares indiscutíveis, para fazer 'rodar' ex-juniores.
Sabendo disso, o Benfica terá sempre grandes dificuldades em, como diria Béla Guttmann, "ter cu para duas cadeiras" (referindo-se, obviamente, ao campeonato e às competições europeias). E como tal, deverá focar-se primordialmente na conquista do campeonato e aí apostar todas as 'fichas'. Foi isso que aconteceu há 3 anos, quando o Benfica, teve de aplicar a fundo para vencer a Naval, na Figueira da Foz, a poucos dias de ir a Liverpool...
No entanto, nesta fase final da época que agora termina, o Benfica apostou forte, em simultâneo, na Liga Europa e no campeonato. Apesar de o campeonato ser sempre apontado como prioridade, o certo é que, em função do desejo de estar na final, no jogo da 2ª mão com o Fenerbahçe não foram poupados quaisquer esforços. E isso acabou por ter um preço: o empate na Luz com o Estoril...
De certa forma, entendo esta opção de alto risco: uma presença numa final europeia traz prestígio e, consequentemente, aumenta a oportunidade de negociar transferências de jogadores por valores elevados (sem sustententabilidade financeira, nem vale a pena pensarmos em títulos...).
Mas o risco também se pode traduzir (como veio a acontecer) em perder ambas as competições... Vendo as coisas por outro prisma, a sustentabilidade financeira fica algo desprovida de sentido se o Benfica não conseguir alcançar os objectivos desportivos, que no nosso caso passam, necessariamente, pela conquista de títulos de Campeão Nacional.
E se Jesus tem responsabilidades ao falhar nesta aposta de alto risco, a direcção tem tantas ou mais responsabilidades, ao aceitar que pudesse ser comprometida a vantagem de 4 pontos em vésperas de visita ao FCP.
Precisamente porque sabemos que não podemos ter deslizes, não podemos facilitar, em momento algum, na luta pelo campeonato. E nesse aspecto, cabe à direcção do clube garantir, constantemente, que todos estão focados neste principal objectivo. A conquista de títulos europeus é, obviamente, o sonho de muitos Benfiquistas. Mas não podemos hipotecar a realidade, mesmo que esses sonhos estejam perto de se concretizar...
Por fim, como referi no post anterior, há ilacções que devem ser tiradas da nossa fraquíssima prestação no jogo do final da Taça. Não sendo o jogo que ia salvar a época, era um título que, sem querer fazer desmerecer o Vitória de Guimarães pela sua conquista (os meus parabéns ao Vitória: um clube com o seu histórico e massa adepta já merecia um trofeu importante no seu palmarés), o Benfica tinha a obrigação de conquistar.
Perante tudo isto, a permanência ou não de Jorge Jesus, não sendo um mero detalhe, está longe de ser o único problema do Benfica na definição do futuro próximo, que passa, necessariamente, por começar quanto antes a preparar a próxima época. Quero começar o campeonato a ganhar (o que já não acontece desde 2004/05...), seja com Jorge Jesus ou outro treinador. Se for Jorge Jesus, acredito que com ele o Benfica vai, finalmente, acabar com esta malapata da 1ª jornada e assim lançar-se numa senda de vitórias. Se for outro, confio que será alguém com, pelo menos, igual capacidade para o fazer.
A pergunta que paira, e que já foi expressa no post anterior, é se Jorge Jesus deve ser julgado pelo trabalho que tem feito ao longo deste anos, em que conseguiu levar o Benfica a atingir níveis exibicionais que há muito não se viam com regularidade e contribuido para a revelação de grandes jogadores? Não nos esqueçamos que o Benfica começou esta época "condenado" a mais um fracasso, após as saídas de Witsel e Javi García...
Ou deverá Jorge Jesus ser julgado pelo facto de a equipa claudicar nos momentos decisivos, não raras vezes devido a opções tácticas discutíveis, misturadas com o desgaste físico de vários jogadores?
Um aspecto importante está em perceber se a equipa está com Jorge Jesus, questão tanto mais pertinente se tivermos em conta a miserável exibição do passsado Domingo e os incidentes no final do jogo.
Penso que esta última questão pode ser determinante e, pelos sintomas, sou levado a pensar que Jorge Jesus tem poucas condições para continuar.
É inegável o mérito de Jorge Jesus em trazer o Benfica de volta às grandes decisões, de forma sistemática, após 15 anos de travessia do deserto; com Jorge Jesus, o Benfica conseguiu transpor as dunas que constituem o último obstáculo antes de chegar à praia, onde acabamos por desfalecer... Caso fique, será capaz de levar o Benfica a ter a força necessária para fazer o "extra mile" que nos permita chegar ao mar do sucesso?
Por outro lado, caso não fique, é muito importante que a direcção tenha, desde já, opções estudadas para substituí-lo.
É muito importante que, caso Jesus saia, quem vier a seguir seja capaz de pegar na equipa e tirar partido de tudo o que de positivo foi alcançado sob o comando técnico daquele. O meu receio, e de muitos Benfiquistas, é que se Jorge Jesus sair contra os planos da direcção, que esta se precipite na contratação de um novo treinador que não seja capaz de pegar no trabalho desenvolvido sob o comando técnico de Jesus e assim corremos o risco de sermos atirados novamente para o meio do deserto...
No entanto, é à direcção do Benfica que cabe avaliar e decidir. Seja qual for a decisão, eu estarei sempre com o Benfica, pois o meu clube é o Benfica, não o treinador (nem a direcção).
Pessoalmente, entre manter um treinador que, apesar de ter falhado em momentos decisivos, tem conseguido levar a equipa a discutir regularmente esses momentos e que devolveu-lhe a competitividade perdida há vários anos, e contratar um treinador de forma não planeada, prefiro a primeira opção. A minha expectativa é de que consiga sempre fazer melhor...
Mas, como é óbvio, se a direcção já tiver planos para um novo treinador, capaz, por um lado, de trazer novas ideias e, ao mesmo tempo, valorizar os jogadores do plantel e capaz de pegar no trabalho positivo que foi desenvolvido ao longo destes últimos anos e introduzir as melhorias necessárias, terá o meu apoio. É sempre um risco, claro, mas se o Benfica se refugiasse em decisões conservadoras, nunca teria ido buscar Sven-Goran Eriksson em 1982.
Para além disso, é para absorver o trabalho da equipa técnica e manter a continuidade do mesmo, com novos elementos, que existe toda uma estrutura de dirigentes e técnicos.
Depois da equipa principal do Benfica, a equipa que tenho seguido com mais atenção é o Benfica B.
Como já havia referido num post anterior, gosto da preocupação que Norton de Matos tem demonstrado em pôr a equipa a jogar sempre de acordo com o modelo de jogo preconizado, evitando recorrer a subterfúgios tácticos em nome do "resultadismo".
Claro que o objectivo da vitória deve estar presente em cada jogo em que o Benfica participa, seja em que escalão ou modalidade for. Mas convem não esquecer que o objectivo principal da equipa B é a formação de jogadores, com o objectivo de um dia integrarem a equipa principal. Esse objectivo já está a dar frutos, como são os casos de André Gomes e, de certa forma, André Almeida.
Por outro lado, a equipa B funciona como uma espécie de "laboratório" que permite, em contexto competitivo, refinar um modelo de jogo e as respectivas formulações tácticas. A 2ª liga é uma óptima competição para o fazer, pois é constituida maioritariamente por equipas com jogadores experientes, que tentam, primordialmente, neutralizar os argumentos técnicos das equipas adversárias. Preparar os nossos potenciais futuros jogadores para serem capazes de superar esse tipo de oposição é, sem dúvida, uma mais-valia, pois é esse tipo de oposição que a equipa principal do Benfica tem de enfrentar na maioria dos jogos em que participa. Quantos jogadores, tecnicamente dotados, não singraram no Benfica precisamente por não estarem preparados para defrontar equipas maioritariamente preocupadas com a vertende defensiva, sem olhar a meios?
Tratando-se do Benfica, e mesmo sabendo que o objectivo pricipal é formar jogadores, não gostamos que a equipa B sofra derrotas, sobretudo como a da semana passada, contra o seu homólogo da 2ª Circular (tivesse o jogo sido contra a equipa principal dessa mesma agremiação, talvez o resultado fosse outro!).
Se a derrota, em si, foi negativa (como o são todas as derrotas), permitiu, por outro lado, identificar lacunas desta equipa, contra um adversário que tem, ao contrário da maioria dos que militam na 2ª liga, o mesmo objectivo: formar jogadores e aperfeiçoar um modelo de jogo, de modo a servir a equipa principal. Adversário esse que tem a vantagem de ter um grupo que está junto há mais anos. Uma das lacunas foi a ausência de um ponta-de-lança "matador", capaz de concretrizar algumas das várias oportunidades que o Benfica criou nesse jogo. Da mesma forma, teve faltas de concentração que foram bem aproveitadas pelo adversário para construir a vantagem. Estas duas situações têm obstado a que o Benfica B, apesar da qualidade do futebol demonstrado (com maior ou menor regularidade), tenha alcançado as vitórias que, obviamente, ambicionamos.
Porém, no jogo de hoje, contra um dos adversários mais bem classificados na 2ª liga e um dos candidatos à subida, num campo mais apropriado para exploração agrícola, o Benfica B voltou a demonstrar a qualidade do trabalho que tem vindo a ser feito e a subir, a meu ver, mais um degrau nesse percurso cujo objectivo, como foi mais uma vez frisado por Norton de Matos, é preparar jogadores para o plantel principal.
Apesar de ter sofrido um golo como resultado de uma falha técnica, conseguiu superar as dificuldades impostas pelo adversário e pelo terreno de jogo (?) e, com bastante pragmatismo e determinação (qualidade essenciais em qualquer equipa profissional), mas sem deixar de ser fiel aos seus princípios de jogo, "dar a volta" e vencer um jogo contra um adversário difícil, no seu terreno.
Claro que esta vitória é "apenas" isso, uma vitória. Não faz com que o Benfica B seja a melhor equipa B da Europa e quiçá de Portugal. Mas interpreto-a, dadas as circunstâncias em que foi obtida, como mais um patamar que foi alcançado por este projecto e como uma demonstração do óptimo trabalho que tem vindo a ser feito a este nível e cujos frutos mais visíveis já são bem conhecidos, como já mencionei.
Falando nas individualidades, gostaria de destacar a "ominpresença" e disponibilidade física de Luciano Teixeira, a capacidade técnica de Cancelo e Cavaleiro (jogadores de grande potencial mas que precisam de amadurecer), a segurança de Mika (mesmo apesar do golo sofrido em Penafiel - ainda que com a atenuante de a trajectoria da bola ter sofrido um efeito imprevisível devido ao forte vento ) e a qualidade de remate e passe de Miguel Rosa (que, como muito bem diz o Gonçalo ("D'Arcy"), até marca livres tomahawk, a fazer lembrar o Juninho Pernambucano). Destaque ainda para o Deyverson, que talvez seja o ponta-de-lança "matador" que falta a esta equipa, e para Sidnei, que sendo claramente jogador da equipa A, está a aproveitar bem esta oportunidade para recuperar a forma (leia-se, perder uns bons quilogramas) e demonstrar que o seu lugar é mesmo a equipa A.
Aproveito para me questionar (embora sem, obviamente, por em causa o mérito do trabalho feito), se não seria de aproveitar a equipa B para dar oportunidades a Alan Kardec (e até mesmo ao guarda-redes Júlio César), apesar de ter alguma curiosidade em Deyverson (enquanto que Mika já demonstrou o seu valor, ao passo que Bruno Varela precisa de amadurecer e a equipa B é uma boa oportunidade para o fazer).
E posto isto, agora só quero é ganhar ao Rio Ave!
O acto eleitoral está concluído. A maioria dos sócios votantes elegeu, por uma clara diferença, a Lista A e, por conseguinte, a continuidade de Luís Filipe Vieira na presidência da direcção do Sport Lisboa e Benfica.
Esta larga diferença representa, também, uma enorme responsabilidade. Nestes próximos 4 anos, a direcção tem de demonstrar que aprendeu com os erros do passado (tanto de gestão desportiva como de relação com as instituições que "mandam" no futebol português). A clara maioria não pode, de forma alguma, ser entendida como uma "carta em branco".
Hoje é um novo dia na vida do Benfica e logo há um jogo importantíssimo em Barcelos, como o são todos os jogos, sem excepção, da Liga Portuguesa. Independentemente da satisfação, ou não, com o resultado eleitoral de ontem, creio que os Benfiquistas estão todos unidos no apoio à equipa, de quem espero o máximo empenho, de modo a que traga de Barcelos os 3 (sempre) preciosos pontos na luta pelo título que todos ambicionamos.
Em suma: agora só quero é ganhar ao Gil Vicente!
E viva o Benfica!!!
No seguimento do anúncio referido no post anterior, foram vários os comentários que tive a oportunidade de ler, tanto aqui na Tertúlia como noutros sites.
Como seria de esperar, são vários os benfiquistas satisfeitos com a promessa do fim do vínculo contratual com a Olivedesportos, incluindo benfiquistas que estão declaradamente contra Vieira e que aplaudem esta (prometida) medida.
Outros duvidam se a mesma será a melhor alternativa ou questionam-se sobre a devida preparção dos estudos que sustentam esta decisão.
Por outro lado, alguns comentadores (benfiquistas e não só), certamente muito mais bem informados do que eu, consideram que este anúncio é pura mentira. Inclusivamente, um desses comentários menciona um comunicado da CMVM que comprova que se trata de uma mentira, apesar de eu não encontrar o referido comunicado no site da CMVM.
A esses, lanço o desafio de comprovar o fundamento dessas acusações.
Quanto a mim, fico agradado com esta tomada de posição, mesmo sabendo que envolve um certo risco. É certo que perdemos receitas "garantidas" da Olivedesportos, mas por outro lado, libertamo-nos do vínculo contratual com uma empresa cujo presidente tem ligações aos meandros mais obscuros do futubol profissional praticado neste logro de país...
Mas, ao mesmo tempo, constitui uma grande oportunidade, até porque nada impede que a Benfica TV possa ceder os direitos de retransmissão a operadores internacionais e de o Benfica vir até a gerar mais receitas do que as que teria caso cedesse os direitos à Olivedesportos.
É também uma grande responsabilidade, pois sendo uma promessa feita em tempo de eleições (e ao contrário das “promessas” de títulos, cuja conquista não depende exclusivamente do Benfica), está inteiramente na mão de Luís Filipe Vieira e da sua equipa directiva o cumprimento da mesma. O seu não cumprimento seria absolutamente inaceitável e demasiado grave.
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Adenda
Para que conste: http://web3.cmvm.pt/sdi2004/emitentes/docs/FR41950.pdf
Este será talvez o anúncio mais importante desta campanha eleitoral.
No futebol, tal como em outros negócios, quem tem mais poder tem maior capacidade negocial. Sempre foi assim. As melhores equipas, no plano desportivo, encontram-se normalmente entre as que dispõem de mais recursos financeiros e, portanto, maior facilidade em contratar os melhores.
A famigerada "Lei Bosman", de 1995, veio acentuar essa tendência, pois eliminou algum poder que os clubes menos abastados tinham em relação aos seus melhores jogadores, ficando assim mais vulneráveis ao poder dos clubes mais endinheirados.
Coincidência ou não, o Ajax, clube cujo sucesso se alicerçou na formação dos seus próprios jogadores, desde as camadas jovens, foi campeão europeu pela última vez em 1995. E desde então, pouco mais fez do que participar com alguma regularidade na Liga dos Campeões...
No futebol, tal como em outros negócios, os mercados volta e meia também ficam "nervosos". E tal como noutras situações, as regras não são iguais para todos os países dentro do espaço europeu (neste caso, regulado pela UEFA), com algum desfasamento nas datas de "fecho de mercado", favorecendo os países onde tal acontece mais tarde (e desses países, os clubes com mais dinheiro, claro).
No meio disto tudo está, claro, o Benfica. Que por ser o maior clube português, consegue movimentar jogadores que noutros clubes da liga são claramente titulares (mas que, no Benfica, acabam por ser jogadores de 2ª linha). Alguns deles ficam no plantel, outros são (re)emprestados ou transferidos para clubes portugueses ou estrangeiros onde mais facilmente serão titulares. E consegue, até, contratar Salvio, claramente um jogador de 1ª linha, capaz de fazer a diferença. E manter muitos jogadores que eram dados como cobiçados por outros clubes.
Todos menos 2. E logo aqueles que, de certa forma, formavam a "espinha dorsal" do meio-campo (e temos que esperar até dia 6...). Se no caso de Javi, Matic já deu sinais de que poderá estar à altura de desempenhar a função, Witsel tem características únicas que vão para além da posição que habitualmente ocupa. Tudo isto sem que se tenha resolvido o "problema dos laterais".
Face a este cenário, interrogamo-nos: qual a estratégia da direcção, perante esta dicotomia negócio-desporto? É que, para que o negócio do futebol seja rentável, há que não descurar a vertente desportiva... Ainda que no caso de Witsel pouco ou nada houvesse a fazer, e mesmo no caso de Javi, o valor da transferência foi muito interessante e difícil de recusar, põe-se a questão: não teria sido possível acautelar estas saídas, ainda que praticamente inevitáveis, num plantel onde predominam os médios ofensivos/extremos? E qual a razão da contratação de Lima, depois de se ter dispensado Saviola e emprestado Mora, N. Oliveira, H. Vieira e Michel? (E já agora, onde é que ficam os laterais no meio disto tudo?...)
A realidade é que, face à impossibilidade de colmatar estas ausências com novas contratações (será necessário esperar por Janeiro), a equipa B (que tem dado boas indicações) poderá assumir uma importância maior que aquela que inicialmente parecia ter. Quem vai substituir Matic nas suas ausências? E sabendo que Carlos Martins é bastante susceptível a lesões, quem mais poderá ocupar o lugar de Witsel?
Será uma possível aposta na equipa B uma opção ponderada ou uma inevitabilidade? Com a crise que Portugal atravessa, até que ponto será o Benfica capaz de resguardar os seus jogadores mais valiosos da cobiça dos clubes que (ainda) têm dinheiro para contratações e salários milionários e prever possíveis "ofensivas" de última hora, sem criar excedentes no plantel? (E os laterais?...)
Embora não regularmente, tenho tentado acompanhar os jogos da equipa B. Vejo ali uma equipa que, como poucas, disputa o jogo pelo jogo. Apesar de não sujeita à pressão dos resultados, faz tudo para garantir a vitória e, acima de tudo, procura praticar futebol de qualidade, que dá gosto ver. É que aqui que, quanto a mim, entra a vertente do futebol enquanto desporto (quase) puro.
Uma equipa formada por jogadores maioritariamente oriundos das camadas de formação, que compensam alguma inexperiência (numa liga competitiva como é a Liga de Honra) com muito talento em bruto e com uma enorme ambição de vencer. Uma equipa que não abdica do seu modelo de jogo e não recorre a subterfúgios táticos, em nome do "resultadismo". É o futebol em estado puro. É o futebol enquanto desporto que entusiasma quem gosta de bons espectáculos e apoia incondicionalmente a sua equipa e aqueles que usam o seu embelema.
Embora o "clubismo" dos jogadores seja, cada vez mais, uma memória do passado, o certo é que os jogadores da equipa B não são, certamente, indiferentes ao facto de o Benfica ser o clube que os tem projectado, desde muito jovens, para o futebol profissional. A ambição de, um dia, não muito longínquo, poderem transportar esse seu entusiasmo para a equipa principal, na certeza que esse será, a par do seu talento, o maior trunfo para atingirem patamares mais elevados, é um argumento não quantificável em milhões de euros.
Certo é que, agora que os milhões falaram mais alto, ficámos com os cofres mais cheios mas, em termos teóricos, com uma equipa menos forte. Mas, repito, em campo nem sempre o talento e ambição são directamente proporcionais aos milhões.
Sem dois jogadores de qualidade inegável que são Javi e Witsel, acima de tudo pela importância que tinham no jogo da equipa, abrem-se vagas àqueles que ambicionam, no lugar deles, ajudar a equipa a vencer.
Seja por estratégia ou necessidade (mais provavelmente a última...), correndo o risco de estar a criar expectativas demasiado altas, talvez esteja mesmo na equipa B a resposta. Não só pelos talentos que lá despontam, mas também pela abordagem entusiástica que têm aos jogos. Gostaria de ver (porque sou e sempre fui optimista em relação ao Benfica) a perda de 2 jogadores nucleares transformar-se numa oportunidade e de acreditar que, apesar de tudo, no Benfica o futebol é, acima de tudo um desporto (ainda que, no campeonato português, impere a vertente mais obscura do futebol enquanto negócio...), onde a ambição de vencer e a competitividade convivem com a valorização do futebol enquanto desporto e espectáculo.
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