Nos Açores tivemos um vislumbre do futebol que já apresentámos no início da época, o que nos permitiu resolver cedo o jogo e regressar a Lisboa com uma vitória inquestionável. Nem tudo foi perfeito, mas foi bom ver que a equipa ainda não esqueceu certos processos e foi uma clara evolução em relação aos primeiros jogos pós-Mundial.
Mais uma vez estávamos privados do Rafa para este jogo, e também do Otamendi por estar suspenso. As escolhas do treinador foram apenas parcialmente uma surpresa. Se na defesa era expectável que jogasse o Morato, já a escolha do Draxler para a posição do Rafa surpreendeu um pouco, mas a verdade é que as opções também não eram assim tantas e não esperaria que o Gonçalo Guedes saltasse imediatamente para titular. E o Draxler ocupou literalmente a posição do Rafa, jogando como segundo avançado, o que significou que o Aursnes continuou a ser aposta para aquela função em que finge mais ou menos ser ala esquerdo, ocupando o João Mário o lado direito - o Neres continua ainda longe da forma ideal para regressar à titularidade. A entrada do Benfica no jogo presenteou-nos com um vendaval ofensivo como há algum tempo não víamos, pressionando o Santa Clara bem junto da sua área de forma a sufocá-los. Trocas rápidas de bola, variações de flanco, laterais a explorar muito bem a profundidade, pressão imediata quando perdíamos a bola de forma a recuperá-la ainda no último terço do campo e matar à nascença qualquer tentativa de contra-ataque, tudo sob a batuta inspirada do maestro Enzo. O resultado foi natural: dois golos ainda na fase madrugadora do jogo, a dar expressão à imensa superioridade do Benfica e a necessária tranquilidade e injecção de confiança. O primeiro aos nove minutos, num cruzamento largo do Enzo desde a esquerda para a zona da marca de penálti, onde o Aursnes surgindo de trás se antecipou à defesa toda e marcou com um cabeceamento perfeito, a fazer inveja a qualquer ponta de lança: de cima para baixo, com a bola a entrar bem colocadinha junto à base do poste e a deixar o guarda-redes pregado ao relvado. Aos dezasseis veio o segundo, novamente com o Enzo na jogada. Passe a desmarcar o Grimaldo na esquerda e cruzamento tenso e rasteiro deste para a pequena área, onde junto ao primeiro poste apareceu o Gonçalo Ramos mais rápido do que a defesa a finalizar com grande classe, colocando a bola junto ao poste mais distante. E não abrandou o Benfica, continuando a abafar completamente o adversário. O terceiro golo só não surgiu porque o Draxler, que depois de um cruzamento tenso do Bah desde a direita apareceu completamente solto em frente à baliza, atirou a bola disparatadamente para fora. A superioridade do Benfica era tal que o novo treinador do Santa Clara se viu obrigado a mexer na equipa pouco depois da meia hora de jogo, de forma a tentar estancar o seu lado direito, onde sobretudo o Enzo e o Grimaldo iam fazendo miséria. O Santa Clara foi completamente inofensivo durante a primeira parte, e foi sempre o Benfica a estar perto do terceiro golo, como Gonçalo Ramos a desperdiçar mais uma boa ocasião já no período de compensação, rematando forte mas à figura do guarda-redes depois de com uma iniciativa individual ter ultrapassado o marcador directo já dentro da área.
A segunda parte do Benfica não foi tão boa como a primeira. Diminuímos claramente a intensidade do nosso jogo, o que permitiu ao Santa Clara respirar e até começar a aparecer mais frequentemente no nosso meio campo. O que resultou em largos períodos de um jogo demasiado partido para o meu gosto, já que sabemos o que poderia acontecer caso eles marcassem um golo que relançasse a discussão no resultado. Ainda assim tivemos logo nos primeiros minutos uma excelente ocasião para matar de vez o jogo, quando o Gonçalo Ramos se desmarcou nas costas da defesa depois de um passe em profundidade do Grimaldo, mas à saída do guarda-redes atirou torto e a bola acabou por passar ao lado da baliza. A meio da segunda parte, as primeiras alterações na equipa. De uma só vez, saídas do Florentino, Aursnes e João Mário para as entradas do Chiquinho, Gonçalo Guedes e Neres. A saída do Florentino surpreendeu-me porque na minha opinião estava a jogar bastante bem e a ser importante para conter o ímpeto momentâneo do Santa Clara. A troca do Aursnes foi mais natural porque já tinha visto um amarelo. A propósito disto, não é por termos ganho que vou deixar de mencionar mais uma actuação manhosa do árbitro Fábio Veríssimo. O Aursnes viu cartão amarelo por agarrar um adversário sobre a linha do meio campo, junto à linha lateral. Houve dois jogadores do Santa Clara que fizeram o mesmo, num caso sobre o João Mário, a travar uma jogada bem mais perigosa, e no outro sobre o Neres, de uma forma tão mais evidente que mais pareceu uma placagem do que um simples agarrão. Nada lhes aconteceu. O Morato viu amarelo por basicamente não fazer nada. Um dos pontos altos da actuação do árbitro, e que mostra bem toda a sua 'categoria' quando nos apita, foi um lance na primeira parte em que o guarda-redes do Santa Clara abalroa um defesa da sua própria equipa e o Veríssimo assinala falta contra o Benfica. Esta nomeação não foi inocente, e não fosse o Benfica ter facilitado a sua própria tarefa e teríamos tido problemas sérios. Voltando ao futebol jogado, pouco depois das substituições o Santa Clara mostrou que o perigo de perdermos o controlo do jogo era real e teve a sua melhor oportunidade em toda a partida, valendo-nos o corte de cabeça do António Silva quando a bola já se encaminhava para a baliza com o Vlachodimos batido. A resposta do Benfica foi dada pouco depois: o David Neres, certamente invejoso do Draxler pela ocasião flagrante desperdiçada na primeira parte, apareceu completamente solto na área em frente à baliza depois de um cruzamento do Grimaldo e conseguiu rematar de forma ainda mais disparatada e ainda mais para fora (a bola saiu em direcção à linha lateral). Mas não foi preciso esperar muito pela machadada final nas aspirações dos açorianos. Numa jogada que começa num lançamento de linha lateral na direita o Santa Clara tentou pressionar com vários jogadores e o Benfica conseguiu fazer a bola sair dali (provavelmente foi a coisa mais positiva que o Draxler fez durante todo o jogo) e pelo Enzo colocou-a no lado oposto, onde o Gonçalo Guedes teve o regresso de sonho: tirou um defesa do caminho e rematou cruzado para o golo, com a bola a desviar num defesa e a trair o guarda-redes. Com o jogo resolvido, tempo ainda para as entradas do João Neves e ainda do fétiche Musa nos instantes finais, que mesmo nos poucos minutos em campo ainda foi a tempo de somar mais um falhanço inacreditável à lista que o Benfica construiu durante o jogo. Um cruzamento tenso da direita feito pelo Bah foi encontrá-lo sozinho em frente à baliza e ele falhou o desvio, deixando a bola passar-lhe entre as pernas. Deve ter sido frustrante para o Bah, que durante o jogo ofereceu literalmente dois golos aos colegas só para vê-los falhar de forma inimaginável.
O Enzo é para mim o homem do jogo. Joga tanto, mas tanto. Encheu literalmente o campo, esteve em todo o lado, e acabou envolvido nas jogadas dos três golos. Fez duas assistências, para os golos do Aursnes e do Guedes, e foi dele o passe a desmarcar o Grimaldo para este fazer a assistência no golo do Ramos. Eu percebi muito bem a pressa de certos sectores a seguir ao Mundial em anunciar que o Enzo não voltaria mais a vestir a nossa camisola e que o divórcio era inevitável depois daquele episódio de indisciplina. A minha surpresa é apenas que até agora ainda não tenham avançado para a habitual estratégia de lhe colarem o rótulo de jogador violento, que é algo que eu estou habituado a ver fazer a qualquer médio que se destaque no Benfica, mas suponho que a classe suprema com que joga esteja a causar problemas à implentação dessa estratégia. O Grimaldo foi outro dos destaques na nossa equipa, dando a habitual dinâmica e profundidade ao nosso jogo pela esquerda. O Gonçalo Ramos também merece ser mencionado. Marcou mais um golo, numa finalização de enorme classe, mas quem tiver visto o que ele fez neste jogo perceberá porque motivo ele é indispensável para o Roger Schmidt. O que ele trabalha de forma incansável durante os noventa minutos quase que nos deixa cansados só de ver, e até faz esquecer que a contribuição do Draxler, a jogar atrás dele, foi quase nula. Gostei também muito do jogo do António Silva, a assumir-se como líder da defesa na ausência do Otamendi, o Aursnes fez uma óptima primeira parte, e achei que o Florentino estava a jogar muito bem, custando-me a compreender a sua saída.
Uma boa resposta e três pontos importantes no primeiro de dois jogos consecutivos fora de casa. Se o Benfica se apresentar como o fez na primeira parte, logo a partir do apito inicial, terá a sua caminhada para o título muito mais facilitada, porque assim é difícil travarem-nos. As armadilhas continuarão a ser atiradas ao nosso caminho porque há muita gente demasiado preocupada com a possibilidade de sermos campeões - e se os habituais adversários falharem apesar de todas as ajudas de bastidores, desconfio que assistiremos a uma repetição da época de 2009/10, com todas as fichas a serem colocadas no Braga. Na minha opinião, as mexidas no plantel feitas até agora no mercado de Inverno deixam-nos mais fortes e com mais opções para atacar os nossos objectivos. Agora é levar isso para dentro do campo, e voltar consistentemente às exibições que deixam os nossos inimigos sem argumentos.
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